domingo, 23 de setembro de 2012

Por que as Mulheres Preferem os Cafajestes?


A Universidade do Texas revelou um dos maiores mistérios da alma feminina: a respeito do porquê as mulheres preferem os cafajestes.

O cafajeste é conhecido como uma pessoa que apresenta um mau comportamento, que não é confiável, mas mesmo assim as mulheres tendem a procurar por este tipo. Muita gente conhece um cara do tipo que não quer compromisso com ninguém, fica com uma atrás da outra, não se apega a sentimentos e, mesmo assim, vive cheio de mulheres interessadas ... e babando atrás dele ... esse é o típico cafajeste!

Taí uma pesquisa que responde essa questão importante da humanidade. E sabe por que os homens do tipo bad boy fazem tanto sucesso? A ciência explica que é uma espécie de "vício natural inerente às mulheres"! E sabe do que mais? Parece que esse vício não tem cura. Descubra o motivo.

Você mulher, já parou para pensar a respeito do quanto você já atraiu para sua vida homens que só trouxeram problemas para ela? Aliás, você já analisou se você atraiu tais homens, sem querer, ou se "algo dentro de você" quis, desejou, propositada e ardorosamente, atrair tais homens assim?

Além do mais, mesmo que ainda existam homens que queiram relacionamentos sérios, sem dúvidas, a maioria, por motivos de sobrevivência da espécie, está em processo gradual de mutação. Eu digo isso por causa de mim mesmo que, por causado desse comportamento delas, perdi completamente a motivação de querer ser "o leal e o legal" com mulher.

Também é notória a elevação do número de mulheres que se apresentam como encalhadas e desesperadas (e talvez eu seja odiado por muitas ao revelar isso) e, que sabem o quanto está difícil conseguir um relacionamento sério, daqueles para valer o empenho e para resultar em casamento?

Afinal, por que as mulheres insistem em se envolver com os bad boys, ou qualquer que seja o termo que se use para se definir esse tipo de homem, as vezes até bonitão, todavia, cafajeste, sempre. E não estamos falando só em atração física: daquelas que nos faz geralmente acha alguém muito sexy. Por experiência própria, posso dizer que ninguém consegue ficar em comprometimento com alguém sem, ao menos, gostar. 


É o caso das três mulheres do personagem Cadinho da novela "Avenida Brasil". Apesar de saberem que ele alimenta outras relações, Noêmia, Alexia e Verônica não conseguem se livrar da paixão pelo "marido".

Antes de falar das descobertas da Universidade do Texas, segundo a mulher, brasileira, psicóloga, pesquisadora e coordenadora do curso de pós-graduação em psicossociologia da Saúde Mental Faculdade de Medicina de Petrópolis, Marília Antunes, existem vários motivos para as mulheres não conseguirem evitar (e depois sair) desse tipo de relacionamento.

"O cafajeste é tido como dominador e bom de cama e, por isso, desejado por outras mulheres. Além do mais, por algo associado ao instinto maternal, as mulheres acreditam que ele possa ser convertido em "homem bom", explicou a psicóloga.

O cafajeste usa de técnicas de sedução para atrair as mulheres, que se prendem a ele por uma espécie de disputa. Para a psicóloga, a mulher acredita que se esse tipo de homem está com ela, é porque ela é mais especial que as outras mulheres, e usa o cafajeste como uma espécie de troféu, enquanto que o cafajeste explora essa característica feminina.

Segundo Marília, ao saber que é traída, a mulher, facilmente, releva o julgamento da atitude do cafa e, a  primeira atitude, no caso da maioria das mulheres que esta presa a esse tipo de relacionamento destrutivo, é procurar saber informações sobre a amante, tornando o triângulo amoroso uma disputa, inevitavelmente acirrada.

Após entrar em um relacionamento destrutivo, muitas mulheres ficam presas, pois acreditam que ficariam ainda pior sem ele.

"A pessoa acha que ama, por isso se prende, se torna escrava desse amor e só leva o sofrimento. Essas mulheres costumam pensar: 'estou sofrendo por ele ser um cafajeste, mas a solidão será pior do que este sofrimento que já é conhecido por mim'", esclareceu a psicóloga.

Já, por outro lado, o que os pesquisadores da Universidade do Texas quiseram entender foi por que um grande número de mulheres insistem, de modo recorrente, em transformar essa atração fatal em um relacionamento de longa duração, mesmo sabendo que a chance de isso vir ser uma barca furada ser enorme.

De acordo com o estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos e publicado no Journal of Personality and Social Psychology, a ala feminina se sente atraída por homens sensuais, rebeldes e bonitos na semana que antecede da ovulação. Ou seja: é uma pura questão hormonal, animal mesmo.

As mulheres que participaram dos testes analisaram perfis de homens em sites de namoro. As voluntárias fizeram duas avaliações dos mesmos rapazes. A primeira avaliação foi feita quando as mulheres estavam no período alto de fertilidade e a segunda, quando estavam em baixa fertilidade.

Foram apresentados dois tipos de perfis às voluntárias: alguns do tipo confiável (com aparência mais certinha) e outros do tipo cafajeste (aparência mais rude). As voluntárias também tiveram que dizer como cada perfil se sairia nas tarefas domésticas, entre casais, etc.

Quando as voluntárias estavam no período fértil, acreditavam que os tipos bad boys se sairiam melhores em tarefas como cuidar dos filhos, fazer compras para a casa, cozinhas, etc.

Outro teste foi realizado com as mesmas voluntárias durante o estudo, mas desta vez de contato. As voluntárias interagiram com atores que interpretaram papéis de cafajestes e de nice guys. Como no teste dos perfis, as mulheres fizeram os mesmos testes nos dois períodos de fertilidade. Assim como a primeira etapa de testes, as mulheres se sentiram mais seguras em atribuir as tarefas domésticas para os homens cafajestes.

Assim, a resposta para esse comportamento de raciocínio, comum ao universo feminino, segundo o estudo, está nos hormônios femininos e na "bagunça" que eles provocam na capacidade de julgamento das mulheres. Durante o período de ovulação, esses hormônios acabam influenciando a sua visão do que é um bom parceiro em potencial: elas passam a preferir os homens mais bonitos e sensuais e dar menos importância a fatores como a confiabilidade.

Para chegar a essa conclusão (que está publicada no Journal of Personality and Social Psychology), os pesquisadores mostraram a mulheres perfis de sites de namoro de homens do tipo mais sexy e cafajeste e do tipo mais confiável (o que provavelmente significava que eram bonzinhos, mas não providos de tanto sex appeal). Elas tiveram que avaliá-los durante períodos de fertilidade alta e baixa e dizer, em cada uma dessas ocasiões, como achavam que eles se sairiam como pais caso tivessem um filho juntos.

Resultado: quando as voluntárias estavam sob a influência dos hormônios da ovulação, elas achavam que o homem mais sexy contribuiria mais para tarefas domésticas como cuidar do bebê, comprar alimentos e cozinhar. Segundo Kristina Durante, uma das autoras da pesquisa, nesse período “as mulheres se iludem em pensar que os bad boys se tornarão parceiros dedicados e pais melhores. Ao olhar para eles através dos ‘óculos da ovulação’, o Sr. Errado vira o Sr. Certo”.

Em um segundo teste, as coisas ficam mais interessantes (para as voluntárias): elas tiveram que interagir pessoalmente com atores do sexo masculino que fizeram os papéis, respectivamente, de cafajeste sexy e de pai confiável. Isso também aconteceu duas vezes, uma durante seu período de ovulação e outro durante baixa fertilidade. E de novo as mulheres na primeira condição acharam que o bad boy (e não o PAI confiável) contribuiria mais para o acolhimento de uma criança.

Mas olha o truque desses hormônios para empurrar as mulheres para os braços do cafa: a ilusão do bom pai só vale para a hipótese de eles terem um filho com elas, não com outra mulher. Quando tinham de responder que tipo de pai um homem assim seria, caso tivessem um filho com uma outra mulher qualquer, elas passaram a ser rápidas em ponderar e apontar os seus possíveis defeitos. No entanto, caso elas próprias fossem a mãe, a coisa mudava de figura e os bad boys viravam um ótimo pai para seus filhos.

Após o estudo e análise, os cientistas ainda não conseguiram decifrar o porquê, mesmo sabendo que esses tipos só sabem enganar os corações, ainda existem mulheres que acreditam que vão conseguir manter um relacionamento sério e duradouro com o bad boy.

Razões imediatas por que as mulheres ovulando preferem cafajestes:

Os biólogos distinguem entre dois níveis de explicação ao examinar o comportamento animal: explicações finais e explicações imediatas (Kenrick, Griskevicius, Neuberg, e Schaller, 2010; Mayr, 1988). Explicações finais dizem respeito a função evolutiva do comportamento e consideram a questão de por que um determinado comportamento evoluiu para ocorrer de modo típico. Já, explicações adjacentes dizem respeito às causas imediatas dos comportamentos e consideram a questão mais mecanicista, de como um comportamento ocorre. Estes dois níveis de análise são complementares e não concorrentes, o que significa que ambos são necessários para uma completa compreensão de um determinado comportamento (Confer et al., 2010).

Muita teoria e pesquisa convergiram para a razão última da evolução sobre o por que as mulheres que ovulam buscam por homens dominadores e sensuais: mulheres ovulando buscam tais homens, pois isso pode trazer benefícios genéticos para a prole (Gangestad & Thornhill, de 1998; Penton-Voak et al, 1999; uma. rever, ver Thornhill & Gangestad, 2008). Na atual pesquisa, eles não contestaram ou testaram este motivo, amplamente apoiado, por último, para o fato de que mulheres que ovulam, persigam homens que consideram simétricos, sexy e socialmente dominantes.

Embora possa ser arriscado para as mulheres buscar parceiros geneticamente ajustados mas, que podem, eventualmente, abandoná-las, pode ter benefícios genéticos compensar os custos potenciais em situações específicas durante a história evolutiva.

Se assim for, a mudança de ovulação induzida, perceptual identificado na pesquisa atual, poderia ser interpretado como uma "mudança adaptativa perceptual", consistente com a teoria de erro de gestão (Haselton & Buss, 2000; Haselton & Nettle, 2006).

Essa mudança de percepção teria persuadido algumas mulheres a assumir riscos de acasalamento, facilitando maior receptividade sexual para homens geneticamente interesantes. Perdendo uma oportunidade de acasalamento com esses homens teria sido mais caro para mulheres de alta fertilidade. Afinal, você nunca sabe, você pode ser o "único".

Então ficam alguns conselhos:
  1. Mulheres, fujam do boy lixo quando estiverem no período fértil, se não querem correr o risco de se apaixonar e querer ter filhos com ele;
  2. Mas não fiquem desesperadas se acharem que estão apaixonadas por um desses: vai ver é só coisa de hormônios mesmo;
  3. Boys lixo, agora vocês já sabem quando o seu poder sobre as mulheres fica maior. Mas atentem para os riscos pois, é a tua semente que poderá ter que vir a crescer como filho de mãe solteira (se é que você liga para isso).
Antes que comecem reclamações por aqui, deixemos claro que a ideia não é promover nenhum tipo de preconceito contra ninguém (até porque a própria ciência está aí para provar que a gente gosta e tal – e somos fãs do Barney Stinson, personagem de “How I Met Your Mother” que representa muito bem o tipo cafajeste). Como bem disse a pesquisadora Kristina Durante, boy lixo ou não, “nunca dá para saber quando o cara é o certo para nós“.

Além do mais, particularmente, eu não sei dizer ao certo o porquê mas, algo me diz que as mulheres, no fundo, sempre souberam disso tudo mas, simplesmente, não gostam que seja falado a respeito.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Deus Criou Tudo que Existe? - A Resposta de um Jovem Genial


"Durante uma conferência com vários calouros universitários, um professor da Universidade de Berlim desafiou seus alunos com esta pergunta:

"Deus criou tudo o que existe?".

Um aluno respondeu valentemente:

"Sim, Ele criou...

""Deus criou tudo?", perguntou novamente o professor.

"Sim senhor", respondeu o jovem.

Porém, o professor replicou: "Se Deus criou tudo, então Deus fez o mal? Pois o mal existe, e, partindo do preceito de que nossas obras são um reflexo de nós mesmos, então Deus é mau?".

O jovem ficou calado diante de tal resposta e o professor, feliz, regozijava-se por sentir ter provado, mais uma vez, que a fé era tão somente um mito.

Outro estudante levantou a mão e disse:

"Posso fazer uma pergunta, professor?

""Claro", foi a resposta do professor.

O jovem ficou de pé e perguntou: "Professor, o frio existe?

""Que pergunta é essa? É claro que existe, ou por acaso você nunca sentiu frio?

"O rapaz respondeu: "De fato, senhor, o frio não existe. Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é a ausência de calor.Todo o corpo ou objeto é susceptível de estudo quando possui ou transmite energia: o calor é o que faz com que esse corpo tenha :ou transmita energia. O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe. Nós criamos essa definição para descrever como nos sentimos se não temos calor.

O professor emudeceu por um instante e o aluno proveitou para emendar:

E a escuridão existe?"

O professor respondeu: "Existe".

O estudante respondeu: "Novamente comete um erro, senhor. A escuridão também não existe. A escuridão, na realidade, é a ausência de luz. A luz pode-se estudar, a escuridão não! Até existe o prisma de Nichols para decompor a luz branca nas várias cores de que é composta, com as suas diferentes longitudes de ondas. A escuridão não! Um simples raio de luz atravessa as trevas e ilumina a superfície onde termina o raio de luz. Como pode saber quão escuro está um espaço determinado? Com base na quantidade de luz presente nesse espaço, não é assim? Escuridão é uma definição que o homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz presente".

Por último, o estudante continuou. perguntou ao professor:

"Senhor, o mal existe?

"O professor respondeu: "Claro que sim, é claro que existe. Como disse desde o começo, vemos estupros, crimes e violência no mundo todo, essas coisas são do mal".

E o estudante respondeu:

"O mal não existe, senhor, pelo menos não existe por si mesmo. O mal é simplesmente a ausência do bem. É o mesmo dos casos anteriores: o mal é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus ...

Deus não criou o mal. Não é como a fé ou como o amor. que existem como existem o calor e a luz.

O mal é o resultado da humanidade não ter Deus presente nos seus corações. É como acontece com o frio quando não há calor, ou a escuridão quando não há luz".

E cena ocorreu por volta do ano de 1900 e, por fim, este jovem foi aplaudido de pé, e o professor apenas balançou a cabeça permanecendo calado ... Imediatamente o diretor dirigiu-se àquele jovem e perguntou qual era seu nome?

E ele respondeu: "Albert Einstein, senhor".

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Brasil e o Conflito na Síria: NÓS NÃO APOIAMOS o governo de Bashar al-Assad


Um governo que ataca o seu próprio povo, a população civil, daquela forma tão bestial, inevitavelmente, TEM QUE CAIR. Desejamos que a Síria se torne uma democracia genuína, que possa voltar a ter ORDEM E PROGRESSO para a nação e que seu povo possa ser feliz!


O motivo principal de eu estar escrevendo esta postagem é porque me deixou surpreso e preocupado receber a noticia de que o povo sírio talvez esteja cometendo um engano quanto ao que pensamos, nós brasileiros, sobre a crise que eles enfrentam lá, em seu próprio pais, com relação ao seu governo. De ontem para hoje, jornalistas brasileiros, foram expulsos de campo de refugiados sírios pois, tudo indica que para a opinião pública síria, o Brasil apoia o regime de Bashar al Assad. Isso é um ledo engano: a alma brasileira jamais apoiará o opressor. Nós poderíamos até tolerá-lo, por um tempo, se não pudermos enfrentá-lo de imediato mas, apoiá-lo, jamais

As relações entre Brasil e Síria são as relações diplomáticas estabelecidas entre a República Federativa do Brasil e a República Árabe da Síria. Os dois países mantêm laços históricos, ancorados na numerosa comunidade de origem síria estabelecida no Brasil, estimada em torno de dois milhões e meio de pessoas. As relações diplomáticas remontam a 1945 e a legação brasileira em Damasco foi aberta em 1951.

Estas relações passaram a adquirir especial importância durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), como reflexo da aproximação entre o Brasil e o mundo árabe de modo em geral, concretizada por iniciativas como a realização da Cúpula América do Sul - Países Árabes e a designação de um embaixador extraordinário para o Oriente Médio.

O governo sírio prestou um inestimável auxílio durante a operação de repatriação de brasileiros atingidos pelo conflito entre Israel e o Hezbollah, em 2006 e por isso nós, brasileiros, somos gratos à Síria. Entre as áreas de cooperação bilateral, a que tem apresentado resultados mais palpáveis é a educacional, como fruto da visita a Damasco, em março de 2006, do ministro da educação Fernando Haddad. Como resultado da viagem, foi implantado, em 2006, um curso de português no Instituto de Línguas da Universidade de Damasco. Trata-se do primeiro curso de português da Síria, e o primeiro a utilizar um método próprio para alunos árabes.

Até então, o próprio povo sírio parecia aprovar o governo do seu presidente, Bashar al-Assad, que havia começado a governar em 2000, como uma esperança de mudanças democrática e que foi reeleito em um referendum convocado no dia 27 de maio de 2007 onde conseguiu 97% de aprovação, todavia ele concorreu sozinho e, nós brasileiros, olhamos aquilo como, no mínimo, algo estranho mas, até ai não era da nossa conta sequer opinar a respeito. No dia 25 de junho de 2010, Bashar al-Assad iniciou uma série de viagens pela América Latina, visitando Cuba, Venezuela, Brasil e Argentina. No entanto, até então, não haviam os protestos populares contra o seu governo por lá.


Apenas em 2011, frente a vários protestos no mundo árabe por reformas democráticas, o governo de al-Assad prometeu abrir mais a política do país para o povo, porém, frente a lentidão dessas mudanças, ou o não cumprimento da promessa, opositores ao seu regime começaram uma série de protestos pedindo a derrubada do Presidente, que respondeu aos manifestantes com o envio de tropas do Exército à áreas de protesto e, foi só ai que os problemas realmente se mostraram com maior claridade. A violência da repressão do governo fez com que vários países pelo mundo, como os Estados Unidos, Canadá e União Européia adotassem sanções contra a Síria.

Com o voto do Brasil, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, em fevereiro de 2012, uma resolução de apoio ao plano da Liga Árabe para que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, deixe o poder. A resolução também condenou as violações de direitos humanos e os ataques contra a população civil durante o seu regime.

Em meados de Julho, quando piorou na situação na Síria, intensificando confrontos entre forças leais ao presidente, Bashar al-Assad, e os opositores ao governo ditatorial na capital, Damasco, o Brasil transferiu todos ois diplomatas de Damasco para Beirute. Manteve o funcionamento de sua embaixada no país, com apenas um funcionário de nacionalidade síria.


No início de agosto, a vice-chefe da missão do Brasil nas Nações Unidas, Regina Dunlop, disse que a resolução aprovada na Assembleia Geral da organização sobre o conflito na Síria refletia a posição brasileira. O texto então aprovado clamava por uma transição política no país em crise, condenava o regime do presidente Bashar Assad e criticava o Conselho de Segurança por não agir para tentar deter a violência no país em conflito.

Segundo Regina, a mensagem reiterava “o chamamento de todas as partes para que cumpram o plano do mediador Kofi Annan, que cessem a violência, cooperem com a comissão de inquérito da Comissão de Direitos Humanos e viabilizem a prestação de assistência humanitária”. Vale lembrar que o documento também reafirmava o compromisso com “a integridade territorial, a soberania e a independência da Síria, além do respeito aos princípios da Carta da ONU”.

Sim, o Brasil estava publicamente repudiando de maneira veemente os atos de agressão contra muitos milhares de mulheres, homens e crianças na Síria, e considerava extremamente graves as alegações de continuada violência contra a população civil síria. Tomando como base as relações internacionais do Brasil, é preciso lembrar que as mesmas são fundamentadas no artigo 4.º da Constituição Federal, que determina, no relacionamento do Brasil com outros países e organismos multilaterais, os princípios da não intervenção, da autodeterminação dos povos, da cooperação internacional e da solução pacífica de conflitos.

Diante deste fundamento, o Brasil tem se comprometido a pressionar todas as partes do conflito sírio com o objetivo de colocar fim à violência e começar o processo político para a transição pacífica. Mas ainda é preciso mais. Nosso país, diante da postura que adota, acaba falando muito e fazendo o mínimo diante dos conflitos internacionais. Com isso, acaba muitas vezes nem sendo levado em consideração; ou pior, é duramente criticado pela sociedade internacional. Por isso, o Brasil precisa com urgência mudar a postura. É preciso adotar um posicionamento firme, claro e com ações concretas a favor do respeito aos direitos humanos e da formação de um governo democrático na Síria ou em qualquer outro país que passe pela mesma situação de horror.

O Brasil há muito disputa um assento permanente no Conselho de Segurança, para assim inserir-se no rol das potências regionais que ditam as regras no sistema internacional. Porém, para atingir esse objetivo, o Brasil precisa ser mais protagonista que um simples apaziguador. Precisa ter uma postura mais incisiva para adquirir maior legitimidade e tornar-se uma referência internacional aos demais países.

Somos um país pacífico internacionalmente e temos orgulho disso. Mas, se queremos ser levados mais a sério, é preciso mais ação no quesito da defesa dos direitos humanos. Além disso, se queremos ser respeitados como líderes, é necessário dar o exemplo, passando a respeitar mais os direitos humanos da população brasileira, garantindo serviços educacionais e de saúde de qualidade a todos.

A cerca de quase um mês foi anunciado que o governo do Brasil liberaria US$ 120 mil para ajudar os refugiados sírios que partem para o Líbano. A decisão foi anunciada hoje 16 de Agosto pelo Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty. Em comunicado, o Itamaraty informa que o dinheiro será repassado para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

O comunicado diz: “No contexto dos esforços brasileiros para minimizar os efeitos humanitários da crise na Síria, o governo brasileiro realizará contribuição de US$ 120 mil ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em apoio aos refugiados sírios no Líbano.”

Pelos dados mais recentes de organizações internacionais, além dos que deixaram as cidades de origem na Síria, pelo menos 157.600 pessoas fugiram do país para o Líbano, a Jordânia, a Turquia e o Iraque. Há ainda falta de alimentos, eletricidade e medicamentos. Apesar de o Brasil figurar entre as maiores economias do mundo, ainda que US$ 120 mil pareça pouco, é o que podemos fazer pois, ainda deixamos a desejar na questão da segurança interna e de serviços básicos a nossa própria população.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Patriarcas Cavadores de Poços


“Dali subiu para Berseba. Na mesma noite, lhe apareceu o SENHOR e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não temas, porque eu sou contigo; abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência por amor de Abraão, meu servo. Então, levantou ali um altar e, tendo invocado o nome do SENHOR, armou a sua tenda; e os servos de Isaque abriram ali um poço.  Nesse mesmo dia, vieram os servos de Isaque e, dando-lhe notícia do poço que tinham cavado, lhe disseram: Achamos água. Ao poço, chamou-lhe Seba; por isso, Berseba é o nome  daquela cidade até ao dia de hoje” Gênesis 26:17 a 25,32 e 33

Cavar poços na antiguidade significava a busca de um bem muito precioso, muito mais valioso que o ouro e também provia a própria sustentabilidade e sobrevivência da vida pessoal e familiar.

Devido à predominância da vida rural nos desertos do oriente, a criação de animais, ovelhas, gados, fazia da água forte fonte de provisão que trazia   riquezas a quem  a  encontrasse.

Isaque era um homem obstinado, um exímio cavador de poços. Aprendeu com seu pai Abraão, ser um homem de caráter, trabalhador e cumpridor de seus deveres, tanto nas relações familiares como sociais.

A prosperidade obtida passava pelo exemplo de fé que viu e ouviu, de modo tão exemplar em seu pai.

A prática de cavar poços e motivar aos servos a trabalharem na busca das águas profundas, fazia de Isaque um homem riquíssimo, tudo em que tocava prosperava. Deus estava com ele.

Por inveja, seus inimigos o perseguiram e  o expulsaram de suas terras, mas quanto mais eles procuravam fazer-lhe mal, lançando-o fora, mais ele prosperava.

A terra onde Isaque morava passava por uma grande fome e ele teve que ir para um lugar distante, a terra dos Filisteus. Deus o proibiu de ir para o Egito e foi em Gerar que ele fez morada.

Em Gerar, com trabalho, esforço e com as mãos abençoadas,  Isaque logo se destacou como um dos homens bem sucedidos daquele país, e por esta causa o expulsaram como já havia ocorrido outras vezes. E assim, ele foi morar no ‘vale’ de Gerar. “Então Isaque saiu dali e se acampou no vale de Gerar, onde habitou.” Gênesis 26:17

Muitas vezes, quando sofremos   perseguições, somos lançados no vale, na planície; o lugar onde os inimigos procuram nos humilhar e nos fazer sofrer. Existe vários vales pelos quais passamos em nossa humilhação:  vale da vergonha, do desemprego, das dívidas, das tensões familiares, da discórdia com o esposo, com a esposa, no relacionamento difícil com os filhos, traições, invejas, amarguras, tristezas, da enfermidade, do abandono. É um verdadeiro martírio, um vale é um lugar de prova e de sofrimento.

Como ser abençoado no vale? Como conseguir ver a mão de Deus em um tempo de sofrimento e perseguição de nossos inimigos? Como prosperar no vale? A resposta é:  Cavando poços.

Isaque continuou cavando poços no vale. Ele não parou, lamentando-se,  maldizendo-se, e  não deu importância à ridicularização  que seus inimigos empreendiam contra ele.

Cavar poços dá trabalho. Ir à busca das águas profundas dá trabalho. A água é um bem que provê sustentabilidade, provisão e vida. Têm muitos que estão morrendo porque pararam de cavar poços, pararam de trabalhar e de acreditar que a bênção viria.

Continue cavando, não pare!!!

Tenha uma convicção em sua alma: você encontrará água com seu esforço, com seu trabalho, com ajuda de outros. Não será nada fácil, mas ela brotará, fluindo com força e constantemente.

Isaque, no vale em Gerar, cavou os mesmos poços que seu pai havia cavado e que os filisteus mais tarde os tinham entulhado. Havia se passado quase cem anos, desde que seu pai tinha passado por ali. Mas as marcas  da obediência, e do trabalho que fizera, continuavam ali, como memorial.

O respeito, amor e admiração que Isaque nutria por seu pai,  o  impulsionaram  a honrá-lo, pois  o testemunho que ele deixará foram paradigmas que  o ajudaram  no tempo de crise, pelo qual  passava.

Um  principio espiritual para sua vida: nunca se esqueça de honrar as pessoas que você ama, mesmo de um passado distante, pois, o reconhecimento é uma dádiva dos sábios.

Cavando poços no vale, Isaque achou água, mas os inimigos disseram “esta água é nossa!”. Houve contenda entre os servos de Isaque e os servos de Abimeleque, o rei daquela cidade. Pelo que o poço passou a ser chamado de  ‘Eseque”, que significa: “contenda’ “ “Cavaram os servos de Isaque no vale, e acharam um poço de água nascente. Mas os pastores de Gerar contenderam com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso chamou o poço de Ezeque, porque contenderam com ele.” Gênesis 26:20.

No vale, pessoas irão dizer quando obtiveres alguma bênção: “ Isso é meu, a mim pertence”. O que fazer quando a contenda chegar? Brigar, bater, esmurrar, xingar, processar, matar? Não! O tempo e o desgaste produzidos nas contendas irá fazer falta na hora de escavar novos poços, então Jeová provê resiliência ao que nele crê.

Isaque, na contenda, mostrou que tinha o coração sarado e confiava que seu Deus, que nunca falha, daria outro lugar em que fosse abençoado. Ele saiu dali e foi cavar poços em outro lugar. Deixa-me  dizer-te uma coisa: aonde você for à bênção te seguirá!

Tornaram a cavar poços em outro lugar, e logo acharam águas, mas os inimigos tornaram a dizer: “Essa água é nossa!”; por isso aquele poço foi chamado de Sitna, que significa: ódio, mesma raiz hebraica de Satanás. . “Então cavaram outro poço, e também por causa deste contenderam, recebeu o nome de Sitna.” Gênesis 26:21

No vale, a raiz de Satanás, geradora de  ódio e amargura irão querer tomar conta de tua alma; são verdadeiros inimigos que irão querer tirar a tua bênção. O que fazer nesse tempo? Matar, amaldiçoar, maldizer o dia que nascestes? Não!!! Saia do conflito, saia do meio das pessoas contenciosas e malignas, saia do meio dessa raiz maligna de Satanás. Vá cavar poços em outro lugar. A Bíblia diz: caminhe a segunda milha; bateram e tua face oferece outra. Mateus 5:39,41 Deus está contigo, a bênção te seguirá.

Isaque saiu e foi cavar poços em outro lugar. Não é o lugar que é abençoado,  é você que leva a bênção e o Deus da bênção em tua vida.

Isaque achou água, e os inimigos não o perseguiram mais, por isso ele passa a chamar aquele lugar de Reobote, ‘amplidão’, ‘Alargamento’. “Partindo dali, cavou ainda outro poço; e, como por esse não contenderam, chamou-lhe Reobote e disse: Porque agora nos deu lugar o SENHOR, e prosperaremos na terra.” Gênesis 26:22

Isaque achou que por não haver mais conflitos com os inimigos, aquele era o lugar definitivo da bênção de Deus para sua vida. Ele estava enganado.

Devemos aprender um principio importante: nem sempre as ausências de conflitos significam que Deus está nos abençoando e que ali é o melhor lugar para nós. É verdade, há um alívio, um alargamento, uma amplitude; temos folga, mas Deus tem mais, tem coisas melhores para nós, tem promessas poderosas.

Isaque estava satisfeito no vale em Gerar, mas Deus tinha Berseba para ele, o lugar da bênção. Nunca o vale será bom o suficiente para nós, temos que subir a Berseba, lugar de promessas e de alianças.

Depois do vale, das lutas e provações, vem a segurança de que nosso amado Deus não nos abandonou.

Isaque subiu, para Berseba, e ali se acampou, invocou a Deus,  e Deus se revelou para ele. Berseba significa: O poço do juramento e das alianças, das promessas.

Foi em Berseba, cem anos antes, que Isaque viu Deus  revelar – se a seu pai, Abraão, como EL Olam, o Deus eterno, o Deus das profundezas, que se esconde e que se revela aos seus servos e amigos. Naquele mesmo lugar, ele ouviu as mesmas palavras que o fizeram ter a certeza de que  as promessas divinas  são cumpridas.

Deus disse a Isaque: “Não temas, porque eu sou contigo, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência por amor de Abrão, meu servo.” Deus fez uma promessa que abençoaria sua vida e sua posteridade para sempre. Assim como fez com Abraão, chamando-o de amigo. Deus cumpre as suas promessas.

Deus, o El Olam, tem promessas para  os que caminham na fé de Abraão e de Isaque. Ele tem o melhor dessa terra para nós.

Isaque fez quatro coisas importantes em Berseba, que todos devemos fazer:  1. Levantou um altar. 2. Invocou o nome do SENHOR. 3. Armou a sua tenda. 4. Deixou os seus servos  abrisse ali um poço.

O altar é lugar da presença de Deus, e onde fazemos sacrifícios. O invocar a Deus  é nossa devoção diária a El Olam. Armar a tenda significa que a minha casa deve está próxima à presença de Deus. Significa também estabilidade no propósito com Deus. Cavar poços em Berseba significa que preciso continuar acreditando que meu Deus abençoará as obras de minhas mãos, e eu irei encontrar as águas profundas. “Nesse mesmo dia, vieram os servos de Isaque e, dando-lhe notícia do poço que tinham cavado lhe disseram: Achamos água. Ao poço, chamou-lhe Seba; por isso, Berseba é o nome  daquela cidade até ao dia de hoje” Gênesis 26: 33

Aquele que procura cavar seus poços em busca das águas profundas do Espírito Santo, em terra de promessa, além de encontrar água, será reconhecido pelos inimigos como “O abençoado do Senhor.” Gênesis 26:29

terça-feira, 11 de setembro de 2012

11 de Setembro de 1973 - O "September Eleven" que Quiseram que Você Esquecesse


"Em 11 de Setembro de 1973, as 11 hs da manhã, aviões Hawker Hunter da força aérea chilena insuflados e coordenados pela CIA - Serviço de Inteligência norte americano bombardeiam o Palácio La Moneda - sede do governo chileno, então democraticamente eleito. O bombardeio de La Moneda teve a óbvia intenção de matar o presidente Salvador Allende. Foi um ato de terrorismo de Estado e um crime contra a humanidade." o autor


Salvador Allende Gossens (Valparaíso, 26 de junho de 1908 — Santiago do Chile, 11 de setembro de 1973) foi um médico e político marxista chileno. Fundador do Partido Socialista, governou seu país de 1970 a 1973, quando foi deposto por um golpe de estado liderado por seu chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet.

Filho do advogado e notário Salvador Allende Castro e de Laura Gossens Uribe, Allende casou-se em 1940 com Hortensia Bussi Soto, com quem teve três filhas - Paz, Isabel e Beatriz.

Allende foi o primeiro presidente de república e o primeiro chefe de estado socialista marxista eleito democraticamente na América Latina. Seus pilares ideológicos foram o socialismo, o marxismo e a maçonaria. Allende foi um revolucionário atípico: acreditava na via eleitoral da democracia representativa, e considerava ser possível instaurar o socialismo dentro do sistema político então vigente em seu país.

Estudou medicina na Universidade do Chile. Em 1927, é eleito presidente do Centro de Alunos, onde aprofundou o seu interesse pelo marxismo. Entra para a maçonaria, seguindo uma tradição familiar.

Grande orador, em 1933 é um dos fundadores do Partido Socialista Chileno onde integra o grupo parlamentar entre 1937 e 1943. Ocupa o Ministério da Saúde de 1939 a 1942. Sai do partido em 1946.

Em 1945, foi eleito senador, cargo que exerceu durante 25 anos. Candidata-se e perde as eleições presidenciais de 1952, 1958 e 1964.

Foi presidente constitucional do Chile de outubro 1970, apoiado pela Unidade Popular - que integrava comunistas, socialistas, radicais e outras correntes populares, até 11 de setembro de 1973, quando tropas sediciosas de extrema direita, lideradas pelo general Augusto Pinochet, (com o apoio de governos exteriores, principalmente os Estados Unidos através da CIA mas também do Brasil), bombardearam o palácio presidencial de La Moneda, exigindo sua renúncia. Allende faleceu resistindo ao ataque, às 14h15 desse dia.

Em 1972 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz.

É difícil encontrar alguém com o espírito de luta, a coragem e a história de Allende. Ele foi um homem que, na verdade, teve o nome marcado na história: democraticamente a esquerda chegou ao poder, e pelas bombas foi apeada do governo. (Senador Pedro Simon).

Mais importante do que encontrar equívocos nos acontecimentos que culminaram nas quedas dos governos de João Goulart, no Brasil, e de Salvador Allende, no Chile, é reconhecer que havia forças imperialistas com interesses nesses países, com democracias frágeis. (Senador Arthur Virgílio).

Em 1964, perdeu as eleições presidenciais para Eduardo Frei, o candidato do partido direitista Democrata Cristão, graças a uma maciça intervenção publicitária da CIA que apoiou Frei, provendo mais da metade das verbas de sua campanha política, e promovendo uma maciça campanha publicitária em seu favor.

Na terceira semana de junho de 1964 a agência publicitária encarregada pela CIA produziu nada menos que 20 spots radiofônicos por dia em Santiago, e em 44 estações provinciais e cinco "noticiários" radiofônicos de doze minutos ao dia em três rádios de Santiago, e em 22 rádios provinciais. No final de junho de 1964 a CIA produzia 26 programas radiofônicos semanais de "comentários políticos".

Nas eleições presidenciais de 1970 concorre como candidato da coalizão de esquerda Unidade Popular (UP) contra mais dois candidatos. Embora sem maioria absoluta, conquista o primeiro lugar com 36,2% dos votos, contra 34.9% de Jorge Alessandri, o candidato da direita, e 27.8% do terceiro candidato, Radomiro Tomic, cuja plataforma era similar à de Allende.

Altos funcionários norte-americanos discutiram o desejo de impedir a posse do então recém-eleito presidente chileno, o esquerdista Salvador Allende, em 1970. (Associated Press).

Como a Constituição chilena previa a necessidade de "maioria dupla" (no voto popular e no Congresso), difíceis negociações foram entabuladas para a aprovação do nome de Allende no Parlamento. Após o brutal assassinato do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas chilenas, o general constitucionalista René Schneider, perpetrado por elementos ligados à Patria y Libertad, Allende teve, finalmente, seu nome confirmado pelo Congresso chileno.


O partido da Democrata Cristão do Chile, uma grande confederação interclassista, com sua base popular autêntica no proletariado da grande indústria moderna, da industria moderna pequena e dos pequenos proprietários rurais, aliada ao Partido Nacional, de extrema-direita, controlava o Congresso chileno. A Unidade Popular, representando o proletariado formado pelos operários menos favorecidos, pelo proletariado agrícola, e pela baixa classe média urbana, controlava o Poder Executivo.

A oposição a Allende controlava 82 cadeias de radiodifusão contra 36 da esquerda, a maior parte dos canais de televisão, e possuía 64 jornais contra 10 de esquerda, sendo 10 diários contra 2.

O presidente Nixon autorizou pessoalmente uma doação do governo norte-americano de US$ 700.000 para o jornal oposicionista El Mercurio, que depois foi seguida de várias outras.

Allende assume a presidência e tenta socializar a economia chilena, com base num projeto de reforma agrária e nacionalização das indústrias. A sua política, a chamada "via chilena para o socialismo", pretendia, segundo ele, uma transição pacífica, com respeito às normas constitucionais chilenas e sem o emprego de força, para uma sociedade de paradigma socializante.

Nacionaliza os bancos, a parte das minas de cobre que restou em mãos privadas após as nacionalizações promovidas por Frei, e várias grandes empresas - o Estado chileno chega a controlar 60% da economia - e passa a sofrer pesadas pressões políticas norte-americanas e de grupos de pressão criados no Chile pela CIA, como a organização terrorista Patria y Libertad, de orientação nacionalista-neofascista.

Em seu discurso de 21 de maio de 1971, falando sobre a meta e não apenas sobre a etapa, definiu o socialismo chileno como libertário, democrático e pluripartidário 

A adoção dessa linha socialista por Allende, implementada durante seus três anos de permanência no poder, além de gerar a oposição dos democrata-cristãos direitistas, de causar um verdadeiro pânico na maioria da classe média chilena, que passou a sabotar sua economia, paralisando-a, quase totalmente, em 1973, provocou sua indisposição com a esquerda radical chilena, como o MIR, que pugnava pela tomada do poder pela força, e criou antipatia com uma parte importante do efetivo militar chileno, cujos chefes sempre foram treinados e doutrinados nas academias militares dos Estados Unidos.

As sucessivas intervenções dos Estados Unidos na política interna chilena, iniciadas com do Projeto Fubelt - Track II) e seguintes, acabaram por aprofundar sensivelmente os problemas da sua já frágil economia. Em 1973, a inflação chegou a cifras de 381,1%, os produtos básicos de consumo desapareceram das prateleiras, o desemprego crescia assustadoramente e a produção e o valor da moeda de então, o Escudo Chileno, em proporção inversa, caíam de forma vertiginosa.

Uma das razões diretas do fracasso da "via chilena para o socialismo" deveu-se a situação geopolítica mundial de então, de plena Guerra Fria, com os Estados Unidos envolvidos na Guerra do Vietnã, não podendo admitir o nascimento de um segundo regime socialista na sua área de influência, após Cuba.

Nos anos de 1970, na América do Sul inteira, apenas o Chile, a Colômbia e a Venezuela mantinham Estados de Direito, com governantes eleitos pelo povo. O Brasil, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia, o Peru, o Equador e o Uruguai, estavam tomados por regimes militares, muitos instalados, e todos apoiados, por Washington.




Além disso as nacionalizações e estatizações adotadas pela Unidade Popular feriram diretamente os interesses de grandes corporações americanas, dentre elas a então poderosa ITT, que passou a pressionar o governo Nixon "a tomar providências". Um memorando interno da ITT detalhava os planos norte-americanos: "A esperança mais realista dentre aqueles que desejam destituir Allende é que uma rápida deterioração da economia provoque uma onda de violência que provoque um golpe militar".

Em 1970 a CIA criara o Projeto Fubelt (também chamado Track II, ou "política dos dois trilhos"), com o objetivo de impedir a ascensão de Allende ao governo. Com a posse de Allende o Projeto Fubelt fracassou, e acabou sendo desativado e substituído por outros, não sem antes ter contribuído para o assassinato do Comandante em Chefe das Forças Armadas chilenas, o general constitucionalista René Schneider.

Nisso também o Projeto Fubelt não obteve grande sucesso porque o general assassinado foi substituído pelo não menos constitucionalista general Carlos Prats. Esse projeto abarcou um amplo espectro de atividades que iam do apoio a assassinatos seletivos ao fomento greves desestabilizadoras, bem como à contratação de políticos e militares direitistas para articular um golpe de estado.

Rapidamente o governo norte-americano submeteu o Chile a um bloqueio econômico informal, que impedia o Chile de obter empréstimos internacionais ou bons preços para o cobre, o seu principal produto de exportação. Isso foi denunciado por Allende num dramático discurso na ONU.

Os Estados Unidos adotaram a estratégia de sufocar gradualmente a economia chilena até que um levante das Forças Armadas pusesse fim a "via chilena para ao socialismo". Edward Korry, o embaixador norte-americano em Santiago, dizia: "não permitiremos que nenhuma porca e nenhum parafuso (americanos) cheguem ao Chile de Allende".

O Chile, tradicionalmente dependente de importações dos Estados Unidos, passou a ver suas indústrias e suas frotas de caminhões, tratores, ônibus e táxis serem progressivamente paralisadas por falta de peças de reposição. Richard Nixon num seu despacho ao Departamento de Defesa fora enfático: "Há uma chance em dez, mas salvem o Chile, façam a economia estancar !".


Uma greve de proprietários de caminhões, financiada pela CIA, começou na primavera, em 9 de setembro de 1972, e foi declarada pela Confederación Nacional del Transporte, então presidida por León Vilarín, um dos líderes do grupo paramilitar neofascista Patria y Libertad. Essa greve, por prazo indeterminado, impediu o plantio da safra agrícola 1972/73 no Chile.

A asfixia econômica do Chile, preconizada pelo governo dos Estados Unidos logo começou a dar seus frutos venenosos. Os Estados Unidos sabotaram os empréstimos ao Chile, "convidaram" as empresas norte-americanas a abandonar os países que mantivessem relações comerciais com o Chile, subvencionaram vários conspiradores (por exemplo, a central da CIA no Paraguai financiou boa parte da greve dos proprietários de caminhões, e também deu apoio financeiro ao líder neofacista da Frentre Nacional Pátria y Libertad, Roberto Thieme, que se escondia em Mendoza).

Até 1973 os industriais chilenos mantiveram o Sistema de Asociaciones Civiles Organizadas, cujo objetivo era provocar o desabastecimento de gêneros de primeira necessidade no país.

Criou-se um clima de enfrentamento, provocado tanto pela esquerda extremista do MIR, como pela extrema direita neofascista do Patria y Libertad, entidade criada com o apoio da CIA, e cujos membros recebiam treinamento de guerrilha e bombardeio em Los Fresnos, no estado norte-americano do Texas.

Os integrantes do MIR fizeram chegar ao Chile armas soviéticas, vindas de Cuba, enquanto os direitistas articulavam-se com a CIA (a agência norte-americana gastou U$ 12 milhões de dólares financiando greves, especialmente a dos proprietários de caminhões - que paralisou o país, impedindo o plantio da safra e provocando a falta de gêneros de primeira necessidade), e com setores militares. Multiplicavam-se os atentados e assassinatos, e as greves gerais patronais.

Essa situação acabou por provocar o almejado "descalabro econômico" - que foi, em sua maior parte, provocado por sabotagens dos opositores de Allende contra a economia chilena - e que atingiu em cheio o governo da Unidade Popular, fazendo com que a inflação saltasse para patamares até então desconhecidos. A inflação passou de 22,1% em 1971 para 163,4% em 1972 e 381,1% no ano do golpe, o que fez com que o crescimento do PIB chileno passasse de 9% positivos em 1971 para 4,2% negativos em 1973.

Primeira tentativa:

A primeira tentativa de golpe resultou de uma aliança entre o Patria y Libertad e militares chilenos, quando essa organização se aliou a um setor do exército que ocupava altos postos através do Chile, num projeto - fracassado - que pretendia tomar de assalto o Palácio de La Moneda e derrubar o governo. A operação ficou conhecida como El Tanquetazo e foi realizada em 29 de junho de 1973. A inteligência do exército, então comandado pelo general constitucionalista Carlos Prats, detectou a tentativa de golpe e ele teve que ser abortado, não sem antes alguns tanques terem saído às ruas e se dirigido a La Moneda.

O Estado de sítio:

Logo após ter debelado El Tanquetazo, ainda envergando capacete e uniforme de combate, o Comandante em Chefe das Forças Armadas chilenas, o general Carlos Prats, dirigiu-se pessoalmente a Allende para dizer que era imperiosa a instauração imediata do estado de sítio no Chile, sem o que ele considerava ser impossível às forças armadas sufocar os atentados terroristas de direita e de esquerda, que já se multiplicavam, e assegurar a ordem constitucional no Chile. Em 2 de junho de 1973 a requisição de Allende, solicitando a instauração do estado de sítio, fora negada pelo Congresso Nacional, por 51 votos a 82.

O Povo, revoltado, clamava em uníssono nas ruas de Santiago do Chile pelo fechamento do Congresso Nacional, aos gritos de: "a cerrar, a cerrar, el Congresso Nacional…". Diante disso, Allende fez um discurso, no qual chegou até a ser vaiado pela multidão:

"Faremos as mudanças revolucionárias em pluralismo, democracia e liberdade. Mas isso não significa, tolerância com antidemocratas, nem tolerância com os subversivos, nem tolerância com os fascistas, camaradas! Mas vocês devem entender qual é a real posição deste governo. Não vou, porque seria absurdo, fechar o Congresso. Não o farei. Já disse eu repito. Mas caso necessário, enviarei um projeto de lei de plebiscito para que o povo resolva esta questão." (Salvador Allende)

O cerco se fecha:

Em setembro o cerco se fechou. O general Prats, de fortes tendências constitucionalistas, e que se recusava a participar de qualquer golpe militar, desacatado publicamente por uma manifestação de esposas de oficias golpistas diante de sua residência, se viu obrigado a renunciar a seu posto de Comandante em Chefe das Forças Armadas, e em 11 de setembro seu sucessor, o general Pinochet, um antigo homem de confiança de Allende, terminou com o que restava da democracia chilena, encerrando com sua ditadura o chamado período presidencialista do Chile (1925-1973). O general Prats foi assassinado pela DINA - a polícia secreta pinochetista - no seu exílio em Buenos Aires, num atentado à bomba.

Embora se declarasse marxista, Allende não seguia à risca os ensinamentos do filósofo do século XIX, e acabou isolado no poder. Segundo escreve Moniz Bandeira em seu livro Fórmula para o Caos, que narra a experiência socialista do Chile: "a proposta da Unidade Popular de adotar um modelo vinho e empanadas de revolução estava destinada ao fracasso. Karl Marx dizia que o socialismo é inviável como via de desenvolvimento, sobretudo num país atrasado como o Chile, em que 70% da produção era de cobre e 70% dos alimentos tinham de ser importados. Era um país vulnerável, ainda mais na esfera de influência dos Estados Unidos(…)". "Minha ideia é sair do lugar comum de que a CIA fez tudo, ou de que o Brasil fez tudo. O projecto era inviável".

O Presidente Salvador Allende compreendeu então, e o disse, que o Povo tinha o Governo, mas não o Poder. Frase mais alarmante, porque Allende levava dentro de si uma amêndoa legalista, que seria a semente de sua própria destruição: um homem que lutou até a morte na defesa de legalidade, teria sido capaz de sair pela porta da frente de La Moneda, de cabeça erguida, se o Congresso o houvesse destituído dentro dos parâmetros da Constituição. (Gabriel García Márquez)


Versões sobre a morte:

Havia duas versões aceitas sobre a morte de Allende: uma era que ele se suicidara no Palácio de La Moneda, cercado por tropas do exército, com a arma que lhe fora dada por Fidel Castro; a outra versão é que ele fora assassinado pelas tropas invasoras. Sua sobrinha Isabel Allende Llona era uma das que acreditam que seu tio fora assassinado. A filha do Presidente, a deputada Isabel Allende, declarou que a versão do suicídio era a correta.

Allende foi inicialmente enterrado numa cova comum, num caixão com as iniciais "NN". Com o término da ditadura de Pinochet, Allende teve um funeral com honras militares, em 1990 no Cemitério Geral de Santiago.

Os restos mortais do ex-presidente do Chile Salvador Allende foram exumados a 23 de Maio de 2011 para determinar a causa da morte. A exumação foi ordenada pelo juiz Mário Carroza, na sequência de um pedido feito em representação dos familiares pela senadora Isabel Allende, filha do ex-presidente chileno, para determinar com "certeza jurídica as causas da sua morte".

No dia 19 de Julho de 2011, a perícia realizada nos restos mortais do ex-presidente confirmou que sua morte fora ocasionada "por ferimento de projétil" e de "forma corresponde a suicídio".

sábado, 8 de setembro de 2012

Malba Tahan e as Escravas de Olhos Azuis.

Outro dia, em um sebo daqui de Osasco - SP, deparei-me, por acaso, com um exemplar da 27a. edição de "O Homem que Calculava" de Malba Tahan. (Editora Record, Rio de Janeiro, 1983). Décadas depois de o ter lido pela primeira vez, não resisti à tentação nostálgica de reviver antigas emoções. Comprei-o, usando como moeda outros livros, e o reli. Para os mais jovens, talvez tenha alguma utilidade dizer algumas palavras sobre esse autor e sua obra.

Malba Tahan, na verdade um codinome utilizado pelo professor Júlio César de Mello e Souza, exerceu uma influência singular entre os estudantes da minha geração e de até duas gerações anteriores a minha. Para os não-especialistas, em particular para a imprensa, ele foi, enquanto viveu, o maior matemático brasileiro. Esse julgamento, que pouco tinha a ver com a realidade, resultava principalmente do grande número de livros que ele escreveu (quase uma centena), muitos deles sobre Matemática. Eram livros de divulgação, escritos num estilo claro, simples e agradável, peculiar ao autor. Neles, a ênfase maior era dada à História da Matemática e a exposições sobre tópicos elementares, inclusive da Matemática que fora moderna no princípio deste século, com destaque para aspectos pitorescos, paradoxais, surpreendentes ou controversos.

Embora os livros de Malba Tahan tenham sido criticados por tratarem seus assuntos de forma superficial, por conterem alguns erros sérios de concepção por serem em grande parte, meras compilações e coletâneas de citações, é forçoso reconhecer que alguns desses livros tiveram grande aceitação, o que significa que havia no país um numeroso público, na maioria jovem, ávido por conhecer melhor a Matemática, sua história e seus desenvolvimentos. Principalmente pessoas ansiosas por ouvir alguém falar da Matemática sob forma menos árida e antipática do que seus tradicionais e severos professores, com seus igualmente áridos e desestimulantes compêndios. Essa necessidade foi suprida, devemos admitir, com bastante sucesso, por Malba Tahan.

Muito embora eu desconheça qualquer fato em que Prof. Aguinaldo Prandini Ricieri, criador do Curso de Matemática Aplicada Prandiano, tenha, em alguma ocasião, citado Júlio César de Mello e Souza, pela forma de abordagem e pela maneira da exposição como ele apresenta as suas questões matemáticas, apesar do trabalho de Ricieri primar por uma evidente maior correção, eu tenho certeza que ele sofreu também, a seu tempo de primórdios de aprendizagem, alguma boa influência de Malba Tahan. Ricieri é o maior disseminador do gosto pela matemática, desde de o início dos anos 1990, e ainda atualmente, entre os universitários brasileiros. Todavia, Malba Tahan obtinha exito em intrigar interesse matemático em pessoas ainda mais simples.

Olhando em retrospecto, podemos hoje achar que esse papel de propagandista da Matemática deveria ter sido ocupado por alguém com melhor treinamento profissional, isto é com mais competência científica. Alguém como Amoroso Costa, talvez. Mas amoroso morreu cedo e, mesmo assim, em que pese da sua vasta cultura, o país ainda não estava maduro para um divulgador do seu nível.

Malba Tahan surgiu na hora certa, com o nível e o estilo que minha geração queria. Se o analisarmos como matemático, estaremos olhando para o lado errado. Mas, se mudarmos o enfoque, podemos vê-lo mais adequadamente, como jornalista, divulgado, antologista ou contador de histórias. Como contador de histórias, ele tem grandes momentos e "O Homem que Calculava" é o seu melhor trabalho. Em suas 27 edições, "O Homem que Calculava" muito fez para estimular o cultivo da arte de resolver problemas, incutir o amor pela Matemática e destacar aspectos nobres e estéticos desta Ciência. Eu era menino quando minha irmã mais velha ganhou um exemplar desse livro corno presente de seu professor. Lembro-me que o devorei avidamente. E ao relê-lo agora, não obstante os muitos calos que me deixou o longo exercício do magistério ainda senti algumas das mesmas emoções de outrora, diante de certos trechos de rara beleza.

Como toda obra, o livro tem seus pontos altos e outros nem tanto. Além da matemática, os contos desse e de outros livros de Malba Tahan costumam enfatizar, frequentemente, a "moral da história", coisa muito preciosa e rara nos dias atuais. Curiosamente, as coisas que mais me agradaram na leitura de hoje foram aquelas das quais guardava ainda alguma lembrança desde a primeira vez.

"O Homem que Calculava" é a história de Beremiz Samir um fictício jovem persa, hábil calculista, versado na Matemática da época contado por um amigo, admirador e companheiro de viagens, uma espécie de Dr. Watson muçulmano. Em certas passagens, a narrativa das proezas matemáticas de Beremiz nos diferentes lugares por onde passava nos faz lembrar o Evangelho segundo São Marcos. O relato, feito por um maometano ortodoxo, é cheio de respeitosas evocações divinas e pontilhado pela linguagem pitoresca dos árabes de novela. Isto é feito com graça e dá um colorido especial ao conto.

Beremiz Samir resolve problemas curiosos, alguns propostos, outros acontecidos naturalmente em suas andanças. Faz também discursos eloquentes sobre o amor à Deus, a grandeza moral e a Matemática. E dá aulas de Matemática bastante inspiradas A filha de um Xeique, com a qual vem a casar-se no fim da história. Para que se tenha uma ideia dos problemas tratados, descrevemos o primeiro, o segundo e o último deles.

A Herança de Difícil Divisão:


No primeiro problema, Beremiz e seu amigo, viajando sobre o mesmo camelo, chegam a um oásis, onde encontram três irmãos discutindo acaloradamente sobre como dividir uma herança de 35 camelos. Seu pai estipulara que a metade dessa herança caberia ao filho mais velho, um terço ao do meio e um nono ao mais moço.

Como 35 não é divisível por 2, nem por 3, nem por 9, eles não sabiam como efetuar a partilha. 

Para espanto e preocupação do amigo, Beremiz entrega seu camelo aos 3 irmãos, a fim de facilitar a divisão. Os 36 camelos são repartidos, ficando o irmão mais velho com 18, o do meio com 12 e o mais moço com 4 camelos Todos ficaram contentes porque esperavam antes receber 17 e meio, e, 11 e dois terços e 3 e oito nonos respectivamente.

E o melhor: como 18 + l2 + 4 = 34, sobraram 2 camelos, a saber, o que fora emprestado e mais um. Todo mundo saiu ganhando. Explicação: um meio mais um terço mais um nono é igual a 17/18, logo da menor do que 1. Na partilha recomendada pelo velho árabe sobrava um resto, do que se na aproveitaram Beremiz e seu amigo.

As Moedas de Gratidão de um Xeique:


O segundo problema é urna pequena delícia. Beremiz e seu amigo, a caminho de Bagdá. socorrem no deserto um rico Xeique, que fora assaltado, e com ele repartem irmãmente sua comida, que se resumia a 8 pães. 5 de Beremiz e 3 do amigo. 

Chegados ao seu destino, o Xeique os recompensa com de oito moedas de ouro: 5 para Beremiz e 3 para o amigo. Todos então se surpreendem com os suaves protesto de Beremiz.

Segundo este, a maneira justa de repartir as 8 moedas seria dar 7 a ele e 1 apenas ao amigo! E prova: durante a viagem, cada refeição consistia em dividir um pão em 3 partes iguais e cada um dos viajantes comia uma delas. Foram consumidos ao todo 8 pães, ou seja, 24 terços, cada viajante comendo 8 terços. Destes, 15 terços foram dados por Beremiz, que comeu 8, logo contribuiu com 7 terços para a alimentação do Xeique. Por sua vez, o seu amigo contribuiu com 3 pães, isto é, 9 terços, dos quais consumiu 8, logo participou apenas com 1 terço para alimentar o Xeique. Isto significa a observação de Beremiz.

No final, porém, o homem que calculava, generosamente, ficou com apenas 4 moedas, dando as 4 restantes ao amigo.

Escravas de Olhos Azuis:


O último problema do livro e o mais interessante no meu modo de ver e, também, causa de eu procurar por esse livro frequentemente, se refere a um conjunto de 5 escravas de um poderoso califa. Três delas tem olhos azuis e nunca falam a verdade. As outras duas tem olhos negros e só dizem verdade. As escravas se apresentaram com os rostos cobertos por véus e Beremiz foi desafiado a determinar a cor dos olhos de cada uma, tendo o direito a fazer três perguntas, não mais do que uma pergunta a cada escrava. Para facilita as referencias, chamaremos as 5 escravas A, B, C, D e E.

Beremiz começou perguntando à escrava A: "Qual a cor dos seus olhos?" Para seu desespero, ela respondeu em chinês, língua que ele não entendia, por isso protestou. Seu protesto não foi aceito, mas ficou decidido que as respostas seguintes seriam em árabe.

Em seguida, ele perguntou a B: "Qual foi a resposta que A me deu?" B respondeu: "Que seus olhos eram azuis". Finalmente, Beremiz perguntou a C: "Quais as cores dos olhos de A e B?" A resposta de C foi: "Ä tem olhos pretos e B tem olhos azuis". Neste ponto, o homem que calculava concluiu. "A tem olhos pretos, B azuis, C pretos, D azuis e E azuis". Acertou e todos ficaram maravilhados.

Explicação para a dedução de Beremiz: 

Em primeiro lugar, se perguntarmos a qualquer das cinco escravas qual a cor dos seus olhos, sua resposta só poderá ser "Negros", tenha ela olhos azuis ou negros, pois na primeira hipótese ela mentirá e na segunda dirá a verdade.

Logo B mentiu e, portanto seus olhos são azuis.

Como C disse que os olhos de B eram azuis, C falou a verdade, logo seus olhos são negros. Também porque C fala a verdade, enfatiza que os olhos de A são negros, Como somente duas escravas tem olhos negros, segue-se que os olhos de D e E que restam, só podem ser são azuis.

Certamente Malba Tahan escolheu este caso para o fim do livro porque desejava encerrá-lo com chave de ouro, tal a beleza do problema. Podemos, entretanto, fazer três observações que reduzem bastante o brilho desse "gran finale":

1) O método usado por Beremiz não permite sempre resolver o problema. Ele acertou por mero acaso. Com efeito, se os olhos de A fossem azuis (admitindo ainda que B tenha olhos azuis e C negros), ele só poderia concluir que entre D e E, uma teria olhos azuis e a outra olhos negros. Mas não poderia dizer qual delas. Mais precisamente: o raciocínio utilizado por Beremiz permite determinar apenas as cores dos olhos de A, B e C. Por exclusão, conclui-se que D e E tem as cores que faltam, mas não se pode especificar a cor de cada uma quando essas cores forem diferentes.

2) Se Beremiz fosse mais esperto, encontraria um método infalível para determinar a cor dos olhos de cada uma das escravas fazendo apenas uma única pergunta! Bastava chegar junto a uma das escravas (digamos, A) perguntar: "Qual a cor dos olhos de cada um de vocês?" Como há 3 escravas de olhos azuis e 2 de olhos negros, só haveria duas respostas possíveis. Se A tivesse olhos negros, sua resposta mencionaria duas escravas de olhos negros três de olhos azuis e seria a resposta certa. Se A tivesse olhos azuis, sua resposta diria três escravas de olhos negros e duas de olhos azuis e, neste caso, bastariam inverter sua resposta para obter a verdade.

3) A solução de Beremiz e aquela dada em 2), acima, fazem uso de uma informação aparentemente essencial: quantas escravas de olhos azuis e quantas de olhos negros existem no grupo. Suponhamos agora que essa informação seja omitida. Têm-se n escravas, cujos olhos podem ser azuis ou negros. As primeiras mentem sempre, as últimas nunca. Pode haver de 0 a n escravas de olhos azuis; conseqüentemente, o número de escravas de olhos negros também não é fornecido.Mesmo assim, ainda é possível determinar a cor dos olhos de cada uma por meio de uma única pergunta! Basta perguntar à escrava A o seguinte: "Se meu amigo lhe indagasse qual a cor dos olhos de cada uma das n, que lhe responderia você?"

A resposta de A para mim consistiria em atribuir a cada escrava uma cor de olhos. Pois bem, seja qual fosse a cor dos olhos de A, fosse ela mentirosa ou não, a cor dos olhos de cada escrava seria exatamente aquelas dada por sua resposta a mim.

Com efeito, apenas por uma questão de método vamos supor que A começasse sua resposta pela cor dos seus próprios olhos. Haveria então duas possibilidades quanto ao começo da resposta de A.

Primeira: "Eu diria ao seu amigo que meus olhos são negros, que os olhos de B são...etc". Neste caso, A não me mente, porque ela só poderia dizer ao meu amigo que seus olhos são negros. Logo seus olhos são mesmo negros e sua resposta contém a verdade.

Segunda: "Eu diria ao seu amigo que meus olhos são azuis, que os de B são .... etc". Então A é mentirosa, pois ela não poderia dizer a ninguém que seus próprios olhos são azuis. Portanto A mentiria ao meu amigo e me diria ao contrário, logo me contaria a verdade.

Apesar de ter estragado um pouco da festa de Beremiz com as escravas, espero ter deixado claro que me diverti lendo "O Homem que Calculava", tanto agora como da primeira vez. A solução 2) foi por mim imaginada naquela época, embora as pessoas que me conhecem, ou que sabem a cor dos meus olhos, duvidem muito desta afirmação.
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Este trabalho de André Luis Lenz, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
 
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